sexta-feira, 8 de julho de 2011

É sempre assim...

Frio. Ele me dá sono. Preguiça. Sinto-me triste nas noites de inverno. Sozinho. O cão que meses atrás deitava-se a beira do sofá e assistia aos inúteis (e totalmente desprovidos de conteúdo) programas de televisão junto a mim, não está mais aqui. Tudo de se foi. Fechei os olhos, e quando os abri, vazio. A velocidade com que tudo acontece é assustadora. Nascemos, e quando menos esperamos, já está tudo no fim.
Deitado nesse sofá azul, que tem pelo menos vinte e cinco anos, eu percebo o quanto tudo muda. Nós mudamos, as pessoas ao redor mudam, as tecnologias mudam, o mundo muda. Sem perceber, nos adaptamos a tudo tão facilmente, que o novo não parece que é tão novo assim. Nos adaptamos as novas formas de comunicação, locomoção, medicina da mesma forma que nos adaptamos a viver em um mundo de guerras, chacinas, massacres e seqüestros.
Tudo é tão normal e rápido que eu já nem me lembro qual foi a ultima vez que me espantei ao ver uma noticia de violência na tevê ou no jornal. Da mesma forma que eu já não me lembro qual foi a última vez que alguém disse que me amava, ou até mesmo que eu vi algum ser vivo bater na porta de minha casa (carteiro, leiteiro, evangélico e mendigo não conta). Sinto que a solidão é minha única companhia.
Me levanto com uma certa dificuldade do sofá. Minha Artrite Gotosa, também chamada de Gota, está insuportável. Meu corpo já está um lixo. Tudo dói, subir escadas, esfregar as costas no banho, levantar da cama, andar, agachar, enfim, tudo me faz sentir dor. Bem que o Senhor poderia me fazer o favor de me levar daqui, acho que já basta.
Ando do sofá, até a porta da frente. Ela está velha. É marrom, range quando é aberta, assim como meus ossos rangem quando eu me locomovo. Com a porta aberta o vento entra com violência para dentro da minha casa, passa por mim como se eu ao menos estivesse ali. Talvez até o vento me ache um velho inútil e cansado. Meu corpo dói mais com esse frio. Penso nas crianças, sem casa, sem roupas de frio, dormindo nas ruas, mas, infelizmente não sinto tanta pena, isso já é comum, estou conformado. É a vida.
Muito frio. Uma blusa quente. É disso que eu necessito. Vou até meu quarto e me visto com uma roupa de frio bem quente. Com a minha super velocidade, eu demoro no mínimo trinta minutos até voltar a porta da frente. Fazer o quê? Velho é assim mesmo, quase uma tartaruga. O frio ainda é intenso, mas não tanto quanto era quando ele me encontrara trajando um fino pijama de seda, que eu ganhara de minha esposa, que Deus a tenha, a dez anos atrás.
Decidido a fazer alguma coisa. Saio a passos firmes (ou não tão firmes assim) pelas ruas escuras e vazias. Talvez esteja fazendo uns cinco graus Celsius. Mas nada me assusta, afinal, o que eu tenho a perder? Já fiquei durante anos dentro de casa envelhecendo e esperando sozinho, e eu nem sei pelo que eu esperei. Andando pelas ruas eu posso pensar mais, tudo é um silêncio. Tudo é vazio, assim como se tornou minha vida E quem sabe, eu até dê sorte, e encontre outro velho maluco e solitário, andando por aí.

Antes...

Passaram-se trinta anos desde a primeira vez que estive aqui. Eu era apenas um garoto de oito anos. Tudo é tão diferente quando se é uma criança. Este lugar parecia ser tão mais divertido do que agora. Mil coisas e brincadeiras eram imaginadas naquela época, mesmo sozinho eu me divertia aqui, já agora, não consigo imaginar uma só coisa para se fazer. Sinto vontade de ir embora.
Antes verde. Agora já não tão verde assim. As árvores nas quais eu subia, imaginando ser um alpinista, desapareceram. Talvez até elas tenham envelhecido e se mudado para um local melhor, aqui realmente se tornara um lugar sem graça. Onde antes havia a grama macia que adorava deitar sobre, e observar as mais diversas coisas formadas pelas nuvens no céu, agora era apenas um chão vermelho, com uns poucos vestígios de grama.
Lembro-me de olhar para os cavalos que aqui ficavam. Dentre os pretos e marrons, havia apenas um branco. Eu tinha a plena certeza de que ele não era um cavalo comum. Diversas vezes eu tive a impressão de que ele me olhava. Ele devia ter asas. Um cavalo alado. Que me levaria para conhecer os mais maravilhosos lugares do mundo, ou quem sabe, me levaria para conhecer sua família de cavalos alados que moravam em alguma parte do céu, sobre as nuvens. Besteira! Toda criança imagina coisas desse tipo. Vai dizer que você nunca esperou Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa?
Para onde teriam ido os esquilos que eu, sem sucesso, adorava tentar capturar? Famílias inteiras desses pequenos roedores “faziam a festa” pulando de árvore em árvore. Agora não havia mais árvores, tampouco, esquilos. Os pássaros coloridos que faziam um coral à parte nos céus, não voavam mais aqui. Vi apenas uns poucos pássaros de cores mortas, com um canto que mais parecia um pedido de socorro. Lamentável.
Forcei um pouco meus olhos e vi, lá ao longe, uma árvore de poucas folhas. Ela tinha uma aparência triste. Fui caminhando até ela. Passei por um trecho que havia algumas pedras, e lembrei-me que aqui havia um pequeno rio que cortava o belo campo verde, como um sorriso no rosto da mais bela atriz de Hollywood. O rio secara. Chegando perto da árvore eu percebi que ela havia se tornado um abrigo de cupins. Pragas destruidoras! Talvez tenham sido os cupins que comeram as outras árvores.
Olhando para a árvore, lembrei-me de um amigo meu. Na cama do hospital. Ele estava fraco e com câncer, assim como a árvore, seca e com os cupins a devorando aos poucos. Felizmente ele conseguiu, com muito custo, ficar curado. Graças aos médicos totalmente competentes e as mais modernas formas de medicina. Ele foi tratado em um hospital de Nova York. Já a árvore, fico pensando como ela seria salva. Se tudo aqui estava sumindo, era só questão de tempo para ela desaparecer também.
Para a pobre árvore não haveria médicos especializados, e nem dinheiro que pagasse os melhores hospitais. Ela só ficaria ali, esperando desaparecer, como todo o resto de natureza que ali um dia existiu. Dei as costas para a árvore. Fui andando até meu carro. No caminho, pensei ter ouvido um som. Tive certeza de que era um cavalo. Senti que ele me observava. Branco. Brilhante. Alado. Talvez ele estivesse ali, a alguns metros do chão, envolto de toda natureza de trinta anos atrás. Fiquei com medo de olhar para trás, por isso, não olhei. Continuei andando até meu carro. Entrei. Girei a chave e fui embora. Deixando para trás as árvores, os esquilos, os pássaros, meu cavalo alado e minha infância.

How Deep is Your love

Não consigo me concentrar sem música, por isso ligo o som e coloco Bee Gees, as musicas deles me relaxa. “How deep is your love”, eterno sucesso da banda, letra perfeita, harmonia impecável, impossível não gostar. Aumento o volume, deixando-o bem alto, para que os gritos vindos do porão não sejam ouvidos. Crianças são escandalosas demais, fazem muito barulho, são umas pestes.
Com a música tocando meus ouvidos, começo a fazer meu trabalho. Primeiramente, escolho a minha mais bela, cintilante, suave, afiada e mortal faca de caça. Ainda está um pouco suja, na última noite, usei-a na irmã do fedelho que está no porão e esqueci-me de lavá-la. Levo-a delicadamente a água, e com cuidado limpo sua lâmina. Passo um pano para que o sangue, que já está seco, saia completamente. Pronto, Agora está perfeita.
Brilhante e limpa, como um espelho. Quando olho fixamente na faca, vejo minha imagem sendo refletida. Lindo. Já havia me esquecido de como sou tão maravilhoso, acho que não me olho no espelho há alguns dias. Minha pele clara, olhos castanhos, cabelos pretos e compridos, o único defeito é uma maldita camada de pêlos que está começando a crescer sobre a minha face. Preciso fazer a barba.
Me incomodo com barba, odeio bigode, afinal, os únicos pêlos que ficam bem no rosto são as sobrancelhas, por isso vou cuidar de minha higiene pessoal antes de terminar o meu trabalho. Vou ao banheiro, passo um creme de barbear no rosto e inicio o processo de cortar os malditos pêlos com um simples barbeador descartável. Quando arrasto o barbeador na minha pele, sinto que ele não está muito novo, a lâmina já está gasta, mesmo assim, continuo.
Passados alguns minutos, termino de fazer minha barba. Limpo a pia suja de pêlos. Percebo que a música havia acabado, os gritos já podiam ser ouvidos novamente. Me pergunto a quanto tempo a música não estava mais tocando. Não me lembro, mas isso não importa, ninguém além de mim é capaz de ouvir os gritos do garoto, afinal, minha casa é afastada do resto da cidade.
Coloco música novamente, penso em várias bandas, The Smiths, Johnny Cash, Bob Dylan, Orbinson, Ray Charles e Stevie Wonder, mas prefiro Bee Gees, e a mesma música novamente, “how deep is your love”, música perfeita. Pego minha faca de caça novamente, sinto que ela sorri pra mim. Retribuo o sorriso para seus trinta centímetros de lâmina, e faço um pequeno corte em meu braço esquerdo. É tão prazeroso ver a facilidade com que a pele e a carne são abertas com um simples movimento.
Não limpo o sangue que escorre do meu braço, deixo ele cair no chão. As gotas vermelhas são lindas. Gostaria que as gotas da chuva fossem vermelhas como o sangue, seria tão mais interessante do que o vazio incolor das gotas de água.
Já é hora, o garoto me espera, sinto que ele não agüenta mais gritar, chorar e espernear. Vou a passos leves até a porta do porão. Giro a chave. A porta velha de madeira pintada da cor branca se abre. O cheiro de mofo e morte invade minhas narinas. Uma delícia. O garoto está lá embaixo amarrado. Gritando como um louco. É incrível como uma criança de oito anos pode fazer tanto barulho. Está escuro, acendo a luz. Começo a descer a escada que tem apenas treze degraus. Olho para faca em minha mão. Sinto que ela está feliz e excitada, assim como eu. Chego ao fim da escada, o garoto me vê e se cala.
Ele está imóvel, está com medo. Minha faca e eu o assustamos. Crianças são mais fáceis de cortar, a pele é mais sensível, eles gritam e fazem mais escândalo do que uma pessoa adulta, por isso prefiro as crianças. Chego perto dele. Ele não se move. A faca como se tivesse vida própria, possui meu braço direito, e com movimentos rápidos e precisos ela inicia o processo de dissecação do corpo humano.
Isso, realmente, me excita.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Simplesmente infinito amor

Preto
Essa é a cor do meu terno
Essa é a cor do seu vestido
Com um pouco de dificuldades, te ajudo a vesti-lo
Preto
O preto realça o branco da sua pele
Já o batom vermelho
Ah, o batom, te deixa com um ar provocante
Cores escuras em uma pele clara
Lindo
A combinação perfeita
Você está uma deusa

Para o jantar, seu prato favorito
Arroz com passas e shitake ao molho madeira
Preparei do jeito que você gosta
Com muito carinho
Te levo até à mesa iluminada a velas
Sinto que tudo te agrada
Suave
Esse é o vinho que coloco em sua taça
Você sempre adorou

Como você não se serve, coloco de muito bom gosto, a comida em seu prato
Coloco um pouco pra mim e me sento à mesa
Te conto como foi meu dia
Você escuta tudo e não me questiona
Te conto umas piadas
Você não ri
Foram muito sem graça
A comida está uma delícia
Mas acho que você está sem fome
Não moveu os talheres

Termino minha refeição
Ligo o som
Valsa
Te convido para uma dança
Você não nega
Dançamos por um bom tempo
Você é leve
Você é um anjo
Te beijo apaixonadamente
Você não corresponde como antes
Eu não ligo
Levo minhas mãos as suas fartas nádegas
Você não se importa
Eu te desejo
....

Te carrego para o quarto
Arranco ferozmente nossas roupas
Beijo todo seu corpo
Sou um animal
Você não reclama
Sempre gostou assim
Estou dentro de você
Eu te domino
Faço tudo do meu jeito
Você não faz barulho
Sempre foi quieta

Eu termino
Saio de cima de você
Estou ofegante
Me sinto inteiramente bem
Você está inerte
Está descansando
Te olho nos olhos
Digo que te amo
Você não me responde
Nem mesmo me olha nos olhos
Você não abre os olhos
Não faz isso à dias
Você está morta
Mesmo assim, eu te amo

domingo, 5 de dezembro de 2010

eu quero ser apenas um soco no estômago

.....

Deus criou o mundo em sete dias. Em sete dias posso te mostrar todo o sofrimento e dor que existe, em sete dias você vai querer estar morta o mais rápido possível. Vai chorar, gritar, sentir medo, vai se aquecer com sua própria urina no meio das pernas. Você vai pensar que Deus, em sete dias, poderia ter feito um mundo bem menos cruel. Mas quer saber o que eu acho?
Acho que ele se diverte muito com tudo isso.


......

O sol é amarelo
O sol é uma bola de fogo
O sol é quente
O sol ilumina
O sol me lembra praia
O sol queima
O sol emite raio ultravioleta
O sol dá câncer de pele
O sol mata
...
Já a lua é inofensiva, por isso prefiro matar de noite.
Não que eu não faça isso durante o dia, mas é só uma questão de escolha...
Afinal, você faz o que quer, você é o que quer ser, é tudo uma questão de escolha.
Eu só evito transpirar à toa. Não gosto muito de ficar suado.

......

Você é linda, e eu te amo. Nunca pensei encontrar uma pessoa assim como você. Desde que te vi pela primeira vez, já tive a certeza de que era diferente de todas as outras. Encontrar você foi um milagre. Mas não se anime. Eu só disse que te amo, em momento algum disse que você continuaria viva...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Insônia

Não sinto sono, já não durmo há 48 horas. O tempo parece não passar, meus dias se tornaram mais longos e totalmente submersos por uma maré insuportável de tédio. Na total falta de algo útil para se fazer, levanto-me do sofá, desligo a televisão, que nada tem a me oferecer, e vou até a garagem. Por uns instantes penso em ir para minha cama e tentar dormir, mas não vou me dar o trabalho de subir as escadas, chegar no quarto para deitar na cama e ficar olhando para o teto ouvindo o maldito tique-taque do relógio até a luz do sol invadir meu quarto me avisando que um novo dia chegou.
Entro em meu carro e fecho a porta. Uma mancha no banco do passageiro me faz sentir tanto ódio que quase dou um soco no painel. Isso é porra. Esqueci de limpar. O nome da vagabunda com quem transei aqui na noite passada eu nem me lembro mais, talvez ela nem tenha dito, só sei que a conheci em um bar, e depois de bebermos um pouco, ela já estava sentada em cima de mim, cavalgando como uma louca, me desejando mais e mais dentro dela. Meu desejo é de nunca mais encontrar essa vadia na minha vida, ela me dá nojo.
Giro as chaves que sempre deixo no contato e saio pelas ruas mal iluminadas e desertas. Talvez no centro da cidade ainda tenha alguma forma de vida para se observar. Dirijo por uns 10 minutos até chegar no iluminado centro. As prostitutas, drogados e todo tipo de pessoas totalmente dispensáveis ao mundo tomam conta desse lixo de lugar. Abro a janela do carro para tomar um ar e me arrependo imediatamente disso. O cheiro podre que sai do meio das pernas das putas e dos cigarros vagabundos dos malditos fumantes invade meu carro, que já estava fedendo a porra. Os cheiros se misturam tornando o interior do meu carro um lugar repugnante.
Continuo a dirigir, observando cada pessoa. Olhando-as dos pés a cabeça. No meio de tanta gente, uma, apenas uma, me chama atenção. Ela está junto com mais duas amigas que nem me dou o trabalho de olhar. Vou dirigindo mais devagar, para poder olhá-la mais atentamente. Ela deve ter no máximo dezoito anos, cabelos loiros até o pescoço com mechas alaranjadas, pele clara, olheiras em seus olhos acusam que ela com certeza deve usar alguma droga. Não maconha, talvez algo mais forte, algo que em excesso, mata. Ela percebe que estou olhando para ela, diz algo para suas amigas, que também olham para mim e começam a rir. Talvez ela seja lésbica, tem cara de que só transou com outras mulheres. Nunca foi violada por um membro masculino
Ela pega um cigarro no bolso, ascende com um isqueiro e começa a fumar. Seus lábios são lindos, imagino como seria beijá-los. “Com as mãos em seus cabelos eu a acariciava. Ela me olhava nos olhos, desejando que eu a possuísse neste exato momento. Aproximo meus lábios dos dela aos poucos. O chão começa a sumir debaixo dos nossos pés. Uso minha boca para abrir a dela. Sinto sua língua, seus dentes, sua saliva se misturando na minha. Faço um tour por dentro de sua boca. Com todas as minhas forças cerro meus dentes e arranco um pedaço da língua dela. Provo o sabor do seu sangue de virgem e o sinto escorrer pelo meu pescoço manchando a minha camisa branca”. Acelero o carro. Melhor eu para de sonhar.
Continuo dirigindo pelo centro. Avisto alguns moradores de rua. Não consigo sentir pena deles, afinal, eles não tomam banho, não consigo nem imaginar o cheiro horrível que eles devem ter. Um deles vê meu carro e se aproxima da minha janela, olho para ele rapidamente e sinto nojo, ele está sujo. Barba e cabelos sujos, roupa suja, cara suja, uns poucos dentes podres em sua boca que se abre e de dentro dela sai algumas palavras que me recuso a ouvir, e ele estende o braço. O desgraçado me pede alguma moeda. Não abro o vidro, finjo que ele não existe, “eu tenho dinheiro e você se foda”.
A vontade repentina de descer do carro e espancar o indigente até ele chorar sangue vai sumindo enquanto eu começo a desviar o pensamento para outras coisas. Penso em minha família. É setembro, mês do aniversário de minha irmã, só não me lembro do dia exato, se ela ainda estivesse viva, ia completar 26 anos. Desapareceu quando tinha 15 anos. Ficamos 3 meses sem notícias dela, até a polícia encontrar seu corpo, já em decomposição enterrado no quintal de uma casa abandonada. Até hoje não se sabe quem cometeu o crime, e o motivo é desconhecido. Enfim, isso já passou, não faz mais diferença nenhuma na minha vida.
Essa cidade é como um câncer, quanto mais se desenvolve, mais perigosa e assassina se torna. Não que eu tenha medo de viver aqui, mas um desgosto e ódio imenso eu não consigo esconder. Cá estou eu, apenas eu e meu carro encobertos pela noite escura, somos só nós dois, o resto é resto, uma grande piada. Por quanto tempo será que estou dirigindo? Meu relógio me mostra que são duas da madrugada. Acho que saí de casa as onze, portanto dirijo há mais ou menos três horas. Ainda não me sinto cansado.
Sem que eu perceba, enfiei o carro no pior lugar possível de se ir uma hora dessas. A parte “negra” da cidade. Não que aqui só vivem crioulos, mas com certeza eles são a maioria. Este lugar tem a mais alta taxa de violência da cidade toda, se eu fosse prefeito, com certeza este lugar ia queimar, não ia deixar sobrar nada nem ninguém, tudo ia pro inferno. Os outros moradores da cidade me aplaudiriam de pé, e em minha homenagem seria construída uma estátua minha em frente a prefeitura com os dizeres “Uma homenagem àquele que exterminou os ratos”. Seria lindo.
Casa, sinto uma vontade imensa de voltar, não que eu goste de lá, é claro. Sem mais ter oque fazer, eu volto. Paro meu carro, entro em casa. Lar, doce lar. Se isso for doce, com certeza Deus têm diabetes. É só uma casa comum de um homem solteiro que espalha cuecas e meias pelo chão, e quando chega do trabalho senta na frente do computador e se masturba incansavelmente fazendo visitas a sites pornográficos. A cozinha mais parece um bar, com latas de cerveja vazias espalhadas pelos cantos, e algumas garrafas de vodca e whisky baratos pela metade. Eu não preciso de comida, preciso de bebida para me esquecer o quão fracassado eu sou.
Deito em minha cama que não arrumo à 3 dias e me acaricio com carinho. Loira. Mechas alaranjadas. Pele clara. Uma palmada em sua nádega com certeza deixaria um sinal maravilhoso. Ela vem vindo até mim. Está mais branca do que à poucas horas atrás. Nua. Fria. Não morta, apenas fria. Sobe em minha cama e me ensina como fazer amor com uma garota menor de idade. Não sei por quanto tempo fizemos amor, só sei que quando abri os olhos eu estava deitado em minha cama, sozinho, com a mão no meu membro que já estava cansado. Deitado em minha cama eu senti sono como não sentia há tempos. Fechei meus olhos querendo nunca mais acordar novamente. Lar doce lar. Talvez Ele deseje ser diabético se viesse em casa algum dia.
Boa noite.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Simples, porém de coração

Você é tão linda desse jeito. Nunca pensei que dessa forma você fosse tão diferente. Sua pele, pálida como a neve, está te dando uma aparência mais delicada. Macia e fria. Fria como se estivesse exposta ao vento frio que sopra na noite mais gélida de inverno. Muitas vezes imaginei como seria vê-la dessa forma, mas não fazia idéia do quanto você fica bela sem seus olhos azuis. Não precisa se preocupar, pro lugar que você está indo, não precisará deles.
Vou guardar seus olhos com muito carinho. Olhá-los fixamente me faz viajar. Vejo-me no céu, voando com os pássaros. Azul. Eu adoro o azul. Mas prefiro o vermelho. O vermelho, da cor do sangue que escorre de seu corpo que está pendurado por correntes no meio da minha sala de estar. Enfiá-las na sua pele deu um certo trabalho, mas valeu a pena o esforço, você está parecendo uma boneca de marionetes.
Leve como uma pena. Sem seus órgãos internos é assim que você ficou. E o mais maravilhoso foi retirá-los com você ainda viva, observando cada corte que eu fazia, cada órgão que eu retirava. Fui bom. Preocupei-me muito com a sua pessoa, assim como você sempre se preocupou comigo. Para evitar sua agonia, eu destruí seus tímpanos com um prego superaquecido que coloquei em seus ouvidos, dessa forma você não ouviria seus próprios gritos. Ocorreu tudo bem. Perfeito.
Seu coração sobre a mesa me dá água na boca. Imagino como seria fazer um ensopado dele...
Hahahaha! Calma! Eu não sou um canibal! Isso foi só uma piada. Estou descontraindo um pouco as coisas. Não quero que ninguém tenha uma imagem ruim sobre minha pessoa. Não tenho interesse em comer gente. Apenas gosto de cortá-las, dissecá-las, torturá-las e conservar seus olhos, unhas, dentes e cabelos. A propósito, minha coleção está cada dia maior! Mas, canibalismo, não, isso já é nojento, loucura.
Cabelos. Já ia me esquecendo dos seus. Quero todo fio. Raspo sua cabeça cuidadosamente. Coloco os seus cabelos cor de ouro na mesa, perto de seus dentes e unhas. Suas unhas foram arrancadas facilmente com um alicate e um bisturi. Enfiava o bisturi bem devagar por baixo das duas unhas para que elas ficassem soltas e usava o alicate para puxá-las. Simples. Já seus dentes foram um pouco mais complicados. Tive que cortar um pedaço de sua língua, pois ela estava atrapalhando quando eu tentava martelar, com um martelo pequenino, seus dentes um a um, para que eles ficassem mais fáceis de serem retirados.
Demorei a terminar de dissecá-la e retirar cuidadosamente as lembranças para que nada fosse danificado. Estou exausto. Isso realmente foi cansativo, porém, divertido. Sento-me no meu sofá e te observo pendurada. Lembro-me de quando você me abraçava. De quando você me beijava. E principalmente, de quando você me colocava na cama para dormir. Mãe, você foi especial. Adeus.